- Por Renata Abreu
A pandemia do novo Coronavírus escancarou um problema que temos alertado há muitos anos: a paralisia do pilar formador do capital humano da nossa Nação. Com a quarentena decretada para conter a disseminação do vírus, a sociedade se trancou em casa. As escolas fecharam suas portas e, para tentar salvar o ano letivo, entrou em ação a educação remota à distância. Só que a estratégia adotada desnudou ainda mais a nossa triste realidade: a Educação parou no tempo.
O retrato social da nossa Educação neste momento é sem cor e sem brilho. O ensino remoto tem sido administrado com acesso limitado à internet e sem equipamentos tecnológicos para boa parte de estudantes residentes em localidades com precárias condições de saneamento básico e com familiares de baixa escolaridade.
Nem todos os alunos têm computador ou tablet. Talvez até tenham um celular. Um único celular, que pertence ao pai e que o filho só usa à noite, quando o chefe da família regressa ao lar. Como estudar num aparelho de tela pequena, em um imóvel com iluminação precária, ocupado por muitas pessoas e sem silêncio para se concentrar? E de estômago vazio, todos nós sabemos que vários estudantes frequentam a escola por causa da merenda.
Também os professores estão enfrentando enorme desafio. Poucos estão capacitados para atuar fora da sala de aula. Pesquisa do Instituto Península, realizada entre os dias 13 de abril e 14 de maio, mostra que 83% dos docentes se sentem despreparados para ensinar à distância e adaptar conteúdos para o campo digital. Faltam-lhes habilidades de pedagogia para transitar on-line com eficácia. Eles têm o hábito de usar celular e computador na vida pessoal, mas não com fins pedagógicos.
O regime emergencial de ensino remoto exige maior interação do professor com o aluno, que precisa ser motivado à distância. A dificuldade de entrar em contato com os pais de alunos, acrescida da baixa escolaridade dos familiares, aumenta a sobrecarga de trabalho e o esgotamento emocional do professor, que fica disponível 24 horas por dia para diminuir o abismo da relação família-escola.
O coronavírus arrebentou com o mundo. O Brasil não está diferente. Além das mortes, o risco da recessão deve aumentar ainda mais a desigualdade social. Mas digo que é na crise que se abre o caminho das oportunidades. E esse caminho precisa começar pela Educação. É a Educação que edifica as bases de desenvolvimento de uma sociedade, influenciando diretamente nos indicadores econômicos e sociais.
Em meados dos anos 1950, o mundo deu início a diversas transformações digitais e tecnológicas. Chegava de mansinho a Revolução Digital caracterizada especialmente pela criação da internet e de novas tecnologias, com modificações educacionais, sociais, culturais, comportamentais e de consumo a diferentes mercados e setores. A popularização da internet mudou drasticamente a forma como nos relacionamos, como consumimos e como absorvermos conhecimentos.
A tecnologia interativa modificou o cotidiano das pessoas, mas nossa Educação ficou estagnada. Isso está bem mais evidente agora, quando boa parte dos estudantes hoje confinados em casa não tem acesso à internet nem equipamentos adequados para acompanhar as aulas à distância. E os professores precisam usar seus computadores e celulares para preparar as aulas on-line, consumindo seu pacote de internet e sua energia elétrica.
Nossa Educação precisa ir além da lousa e giz. Precisa entrar na Era da Informação. Precisa deixar a Revolução Digital entrar no ensino! Temos de resolver problemas estruturais como salário, valorização e capacitação permanente dos professores e condições físicas das escolas, mas é preciso também inserir, urgentemente, a era digital no ensino. Negar a importância da educação digital é o mesmo que negar a importância da tecnologia em nosso dia a dia.
Como já ocorre em vários países e até mesmo em alguns municípios brasileiros, o tablet precisa estar na lista de material fornecido ao aluno e fazer parte do aprendizado diário dele. O computador precisa estar presente na sala de aula. É de suma importância a mistura do ensino presencial e do ensino on-line, integrando a Educação à tecnologia que já permeia tantos aspectos da vida do estudante mundo afora.
É claro que nada disso terá serventia se a mais popular das ferramentas da Revolução Digital não for uma realidade cotidiana. O acesso à internet precisa ser um dos direitos elencados na Constituição. Isso é fator decisivo para ampliar os horizontes de oportunidade dos cidadãos e superar a barreira das desigualdades em nosso País. A internet precisa ser direito dos brasileiros ou nossa Educação continuará a ser um caminho sem saída para o futuro, e teremos mais, muito mais, que os atuais 46 milhões de excluídos digitais no Brasil.
- Renata Abreu é presidente nacional do Podemos, deputada federal por SP e autora da PEC 185/15, que inclui o acesso à internet entre os direitos fundamentais