- Por Renata Abreu
Que loucura! Na mesma semana em recebi o diagnóstico da cura da Covid-19, assisti pela tevê, estarrecida, os relatos dramáticos de pacientes submetidos a ventilação manual e muitos morrendo asfixiados nos hospitais e UTIs de Manaus. Dias antes chorei de alegria ao sair do isolamento e voltar a conviver com meus filhos, abraçá-los e beijá-los; dias depois chorei de soluçar ao ver o desespero de equipes médicas e familiares tentando conseguir oxigênio para salvar vidas.
Tenho pesadelos. Acordo assustada. Aspiro e expiro profundamente. Um movimento tão comum que fazemos assim que nascemos. Respirar é vida. Vida é o nosso principal bem, precisa ser preservada acima de tudo. Sinceramente, não queria estar na pele dos profissionais de Saúde da linha de frente de Manaus. Ter de optar por dar oxigênio aos pacientes com maior chance de sobrevivência. Ninguém jamais deveria ser obrigado a escolher quem vive e quem morre. Lidar com a morte faz parte da rotina deles, mas não há emocional que resista quando o paciente morre por falta de atendimento. O meu emocional está abalado só de acompanhar o drama dos manauaras.
A verdade é que o colapso de Manaus escancara a negligência durante a pandemia. Não há um só culpado. De governantes municipal, estadual e federal à população, todos têm sua parcela de culpa nesta crise. A capital amazonense foi uma das cidades mais atingidas pela pandemia em todo o mundo no ano passado. Entre os meses de abril e maio, já havia passado por situação dramática, com hospitais e cemitérios absolutamente lotados.
Os escândalos de corrupção durante a pandemia, com a compra de respiradores superfaturados em uma loja vinhos e a exoneração de membros do governo, contribuíram para essa situação calamitosa. Também faltou preocupação com as pessoas. Faltou respeito pelas pessoas. Falhou por não ter sido traçado um plano de melhor aparelhamento dos hospitais e UTIs, ao ponto de faltarem botijões de oxigênio. Falhou por relaxar nas práticas de distanciamento social, pela população aglomerar. E o maior cinturão verde do planeta ficou sem oxigênio!
Com tantas falhas e escândalos, aliados à descoberta de uma nova variante do coronavírus, era questão de tempo para o sistema de Saúde entrar em colapso. O número de internações, segundo a Fundação de Vigilância em Saúde, atingiu um pico diário de 250 pessoas, e a taxa de mortalidade no Estado do Amazonas pulou para 143,1 por grupo de 100 mil habitantes, considerada a mais alta do Brasil.
Que a situação aterrorizante de Manaus sirva de alerta para os outros Estados. A vacina já está sendo dada no Brasil, mas, enquanto a população não for imunizada, é preciso controlar a pandemia com distanciamento social, é preciso ter restrição da circulação de pessoas, é preciso que todos usem máscara. É preciso que todos se comprometam a fazer isso. Chega de asfixia! Vidas humanas importam e precisam de tratamento adequado para serem salvas. E eu quero voltar a chorar de alegria!
- Renata Abreu é presidente nacional do Podemos e deputada federal por São Paulo